Mesmo com aquele frio todo, molhei os pés. Fechei os olhos e sorri ao sentir a água fria a bater-me nos pés. Era uma sensação realmente agradável, por momentos, esquecia o tempo que ali fazia. Deixei a mala na areia e voltei ao mar, molhei a cara. Tremia mas estava a sorrir.
Não era saudades do verão, eram saudades tuas. O frio dói. Ao passar frio, a dor que alimento sempre que te vejo desaparece por momentos, por minutos. Os melhores minutos dos meus últimos meses.
Passou-me pela cabeça despir-me e entrar na água. Nadar sempre em frente até ficar sem pé. Esperar cansar-me e ser levada pelas ondas fortes. As lágrimas caíram-me pelo rosto, estava outra vez a sofrer por ti.
O meu pensamento foi interrompido, graças a Deus. Álguem me pôs as mãos sobre os olhos. As mãos eram grossas, grandes e estavam muito frias. Passei as minhas mãos pelas tais, deslizei aos braços e senti que eras tu. Arrepiei-me ainda mais e baixei os braços. Ouvi a tua voz, rouca a perguntar-me: "Desistis-te de tentar saber quem sou?". As tuas mãos continuavam sobre os meus olhos e a água a bater-me nos pés. Com alguma dificuldade, respondi: "Já sei."
Largaste-me e fizeste sinal para continuarmos a andar em frente. Aceitei e continuei a andar pela praia, ao teu lado, com frio e com uma enorme vontade de te olhar. Interrompes-te o silêncio: "Não almoças-te no sítio do costume.".
Pedi-te que não falasses, o silêncio faz-nos bem.
Abri os olhos e reparei que aquilo era apenas fruto da minha imaginação. Estava sozinha na praia, cheia de frio e com lágrimas na cara.
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