Estava a passear na praia com a mala da escola sobre o ombro. Estava frio, vento. Não conseguia pensar em mais nada sem ser na minha casinha, ou melhor, na minha cama. Nunca passei tanto frio na praia num final de tarde, parecia que eram 23h da noite. 
Mesmo com aquele frio todo, molhei os pés. Fechei os olhos e sorri ao sentir a água fria a bater-me nos pés. Era uma sensação realmente agradável, por momentos, esquecia o tempo que ali fazia. Deixei a mala na areia e voltei ao mar, molhei a cara. Tremia mas estava a sorrir. 
Não era saudades do verão, eram saudades tuas. O frio dói. Ao passar frio, a dor que alimento sempre que te vejo desaparece por momentos, por minutos. Os melhores minutos dos meus últimos meses.
Passou-me pela cabeça despir-me e entrar na água. Nadar sempre em frente até ficar sem pé. Esperar cansar-me e ser levada pelas ondas fortes. As lágrimas caíram-me pelo rosto, estava outra vez a sofrer por ti. 
O meu pensamento foi interrompido, graças a Deus. Álguem me pôs as mãos sobre os olhos. As mãos eram grossas, grandes e estavam muito frias. Passei as minhas mãos pelas tais, deslizei aos braços e senti que eras tu. Arrepiei-me ainda mais e baixei os braços. Ouvi a tua voz, rouca a perguntar-me: "Desistis-te de tentar saber quem sou?". As tuas mãos continuavam sobre os meus olhos e a água a bater-me nos pés. Com alguma dificuldade, respondi: "Já sei."
Largaste-me e fizeste sinal para continuarmos a andar em frente. Aceitei e continuei a andar pela praia, ao teu lado, com frio e com uma enorme vontade de te olhar. Interrompes-te o silêncio: "Não almoças-te no sítio do costume.".
Pedi-te que não falasses, o silêncio faz-nos bem.
Abri os olhos e reparei que aquilo era apenas fruto da minha imaginação. Estava sozinha na praia, cheia de frio e com lágrimas na cara.

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