Mochila cheia

Estava calor, muito calor. O cabelo estava apanhado atrás e o top estava subido. Abanava uma folha que me foi dada numa aula de Geografia. O autocarro já tinha partido à 20minutos da terminal mas ainda faltavam 10 para chegar à minha paragem. Um senhor, já de idade, aproximava-se da paragem. Trazia uma mochila muito velha posta apenas num ombro. Notava-se que estava pesada, cheia. O aspecto do senhor era miserável, parecia um autêntico mendigo. Não notei se cheirava mal mas depressa tirou um Touch da mala e atendeu o telemóvel. Fiquei boqui-aberta, ele tinha um telemóvel melhor que o meu!
A chamada deixou-o desanimado e um tanto chateado. Começou a andar aos círculos e o autocarro continuava sem aparecer. Viu-me e aproximou-se. Perguntou-me, muito educadamente: "Posso dizer-lhe umas coisas?", assenti com a cabeça e afastei-me um pouco. Apesar do olhar triste do homem, hoje em dia não se pode confiar muito nas pessoas. Coçou o cabelo comprido e sujo e disse:
"Faz-te mulher. Sê forte, encara a vida com força mas a pintes de cor-de-rosa. Ela é negra, escura e por vezes assustadora mas vão haver dias que tudo vai correr melhor e vais sorrir de novo para tudo aquilo que hoje insultas. Não cruzes os braços à espera que as pessoas te façam feliz, não o vão fazer. Vais tu.", sorriu para mim e levantou o polegar pedindo ao condutor que parasse o autocarro. Num inglês muito pouco fluente tentou dizer:
"The life is a climb but the view is beautiful.", entrou e sentou-se nos bancos de trás do autocarro.


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