Não rasgues

- Vou ter de te deixar partir.
- Não é o que queres.
- É o que é melhor para nós. A nossa história é bonita, mas estraguei-a. Estraguei, não vou dizer que foi sem intenção, porque sou um ser humano, penso nas coisas que faço antes de as fazer. Mas também não vou dizer que é por não gostar de ti, porque gosto, e muito. Ainda me lembro de como te declaras-te a mim: uma carta debaixo da porta com uma foto minha e tua, com um coração a unir-nos.
- Estragas-te? Que eu saiba não estragas-te nada sozinha, se a nossa relação está estragada, é culpa dos dois. E eu lembro-me de estar a pescar no rio, com o meu avô e tu apareceres a correr na minha direcção, lembro-me daquele abraço como se tivesse sido ontem, disseste: Quero ficar contigo para sempre. E como sempre, choras-te.
- Chorei de alegria, tu deste-me tudo o que nunca ninguém deu. Digamos que eu tive uma vida só contigo e agora estou a voltar para a vida colectiva. A nossa não era colectiva, era individual, nós eramos um. Eu estraguei, eu beijei-o, eu dormi com ele. Peço imensa desculpa mas não espero que a aceites.
- Reclamas-te porque nunca me viste a chorar, achavas que as nossas discussões não me magoavam. Então agora vê, pela última vez.
- Não faz mal, é para eu me sentir ainda pior com o que fiz, chora.
- Foste a melhor coisa que me aconteceu na vida, fizeste-me muito feliz, cresci muito contigo. E agora, com esta, ainda cresco mais. Se chegas-te a esse ponto é porque eu não te estava a fazer feliz. Desculpa-me também.
- Não tens culpa de nada, chega de não me odeares, odeia-me, eu mereço!
(...)
- Não odeio. Não rasgues a fotografia, também não te rasgo.

(The Notebook)